domingo, 30 de junho de 2013

Vestibular: licenciaturas estão entre os cursos menos procurados

Com salários baixos e condições de trabalho muitas vezes precárias, são poucos os jovens que se interessam pela carreira de professor. Os números dos vestibulares de grandes universidades do Brasil comprovam o desinteresse: os cursos de pedagogia e licenciaturas estão entre os menos procurados nas instituições de ensino superior brasileiras.

Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), 466 pessoas se inscreveram para o curso de pedagogia no vestibular de 2013. Cursos mais tradicionais, como arquitetura e jornalismo, foram procurados por 1.706 e 916 estudantes, respectivamente. O desinteresse entre as licenciaturas é mais explícito: química teve apenas 62 candidatos, e física, 148. As licenciaturas em teatro e artes visuais são os cursos menos procurados na federal gaúcha: foram 49 e 55 inscritos, respectivamente. Na soma, as licenciaturas e pedagogia têm 23,43% do número de inscritos para o curso mais procurado na UFRGS, medicina, e correspondem a 4,05% do total de candidatos do vestibular.

 Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil
Em outras universidades com conceito máximo no Índice Geral de Cursos - baseado na média ponderada das notas das graduações e pós-graduações de cada instituição -, a procura também é baixa: na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pedagogia e licenciatura representaram 4,23% da procura por cursos no vestibular de 2013. Na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), corresponderam a 11% dos inscritos. Em instituições privadas, o cenário se repete: na PUC Rio, pedagogia teve 51 inscritos em 2013; as demais licenciaturas somaram 311 candidatos. Juntas, representam 3,12% dos inscritos no vestibular. A PUC de São Paulo divulga apenas a procura pelos cursos nos quais a relação candidato por vaga é superior a dois. No vestibular de inverno de 2012, houve 34 inscritos para 10 vagas ofertadas em pedagogia. Já na seleção de 2013, nenhuma licenciatura aparece na lista.

Para a coordenadora do curso de pedagogia da UFRGS, Tânia Marques, o grande motivo que afasta os jovens da carreira de professor é a remuneração. O piso nacional para uma jornada de 40 horas dos profissionais da educação é de R$ 1.567. No entanto, em 10 Estados o mínimo não é respeitado. "Os estudantes acabam buscando, no magistério, realização profissional, pois veem que o trabalho que exercem faz diferença. Mas, por mais que seja importante ter prazer no que se faz, é necessária uma valorização maior do profissional, até para atrair as pessoas", afirma Tânia.

Na opinião da coordenadora do curso de pedagogia da UFSC, Maria Sylvia Carneiro, falta vontade política para melhorar as condições de trabalho dos docentes. "Isso envolve salários, plano de carreira, formação adequada e manutenção da estrutura física", diz. Outra problemática, alerta, está no mercado de trabalho: "Há muita rotatividade em função das condições de trabalho. Nas redes públicas de ensino, lamentamos que não se aumente o número de vagas para professores efetivos, que podem construir sua carreira de uma forma digna. Ainda temos muitas vagas para professores substitutos, que enfrentam condições muito adversas, com contratos precários e sem garantia de continuidade". Para a professora, o contexto é reflexo da falta de planejamento a longo prazo para a educação. "Pense no investimento em formação continuada, no desenvolvimento de projetos pedagógicos. Em um ano, é um grupo de professores, no outro, não há garantia de que o grupo se mantenha", critica Maria.

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